O economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE-RS), Alfredo Meneghetti Neto, fala de sua expectativa para a retomada do crescimento econômico e diz que este momento de “stand by” do crescimento econômico seja o melhor momento para as empresas se prepararem para a volta dos grandes investimentos, que gerarão novas oportunidades, empregos e ganhos para aqueles que estiverem preparados.
Pergunta: Já vemos algumas movimentações no setor produtivo no sentido de voltarem a investir e, pelo menos no que dizem alguns empresários, uma retomada da produção. O pior já passou para o setor industrial, ou ainda é cedo para algum otimismo?
Alfredo Meneghetti Neto (AMN): Já vemos algumas movimentações em setores produtivos, que estão voltando a investir e, pelo que reparamos, muitos empresários já estão retomando a produção. Posso afirmar qu eu pior já passou para os setores industriais, vimos nos últimos dois anos uma queda muito brusca do PIB, o que gerou uma grande queda na produção industrial. Se em 2014 ainda tivemos um empate, e terminamos o ano sem queda significativa, mas também sem crescimento, em 2015 houve uma queda de 4% no PIB, número que deve se repetir em 2016. Isso significa que em dois anos tivemos 8% de retração, o que pode ser considerado trágico. Porém, conforme informações que já foram tabuladas pelo IBGE, o volume de produção melhorou, tanto que a própria mídia já repercute essa retomada em diversos setores. Com a volta da estabilidade, ou pelo menos da normalidade, política pós-impeachment, com o governo assegurando uma base aliada sólida, o setor produtivo volta a ter confiança também. Se isso for somado a uma solução para as dívidas dos Estados, já teremos um crescimento de 1% conforme o boletim Focus, do Banco Central.
Pergunta: Pelo menos no que diz respeito ao mercado financeiro e a bolsa de valores já reparamos um certo otimismo. Essa alta que estamos verificando é mera especulação ou aponta uma retomada segura da economia?
AMN: As duas coisas. Creio que as bolsas se mexem muito pelos estímulos externos, seja da mídia, ou da confiança demonstrada pelos empresários e dos cidadãos, mas também pelos encaminhamentos na área política. A bolsa sempre é um termômetro que antecede o crescimento da economia, e temos acompanhado um crescimento contínuo dos volumes negociados nas bolsas de valores e no preço dos títulos do tesouro. Tem um pouco de especulação, pois são pessoas que estão comprando agora para venderem daqui dois ou três meses, mas isso também demonstra que eles apostam na retomada segura da economia em 2017 e, tomara, que para os próximos anos.
Pergunta: Um dos setores que foi fortemente “apunhalado” pela crise foi o de petróleo e gás, por estar envolvido diretamente nas investigações da Lava-Jato, por exemplo. O governo sinaliza uma abertura maior para investimentos estrangeiros e uma partilha do pré-sal. Seria este um bom momento para as empresas brasileiras também investirem no setor?
AMN: Eu creio que o posicionamento das empresas brasileiras no que diz respeito ao petróleo é o de seguir a Petrobrás, que é a grande protagonista deste mercado. Ela vem passando por um processo de investigações muito fortes por conta da Lava-Jato, por conta dos desvios por corrupção. Mas muito disso já está voltando para a estatal, que ainda passa por esse momento de depuração, o que pode ser muito bom. Os ativos já estão voltando a teem boas avaliações dentro do segmento em nível mundial por conta dessa demonstração de que estão buscando uma gestão mais adequada. Eu acredito que as terceirizadas já podem ter uma expectativa de um crescimento importante muito em breve. Isso também vale para essa abertura para que outras empresas possam participar da exploração do Pré-Sal, pois a estatal percebeu que não tem pernas para bancar o projeto sozinha.
Pergunta: O FMI deu uma pequena melhorada na previsão de queda na economia brasileira em 2016, de 3,8% para 3,3%, mesmo que seja uma mudança pequena, não mudando o quadro de recessão, o governo comemorou, e alguns analistas mais otimistas ouvidos pelo Boletim Focus já preveem um crescimento de mais de 2% para a economia em 2017. Isso é possível, que a engrenagem volte a girar tão rapidamente?
AMN: Creio que não. O que vem sendo posto pelo Boletim Focus é algo em torno de 0,5% ou 1% de crescimento em 2017. Pode ter economistas que estão sendo muito otimistas, até por ser possível que a leitura destes leve em conta o aumento da produção industrial, da vol dos investimentos a curto prazo nas empresas brasileiras e em alguns setores. Em alguns segmentos já percebemos, realmente, uma confiança muito grande, e talvez eles estejam contaminando algumas análises. Mas a verdade é que, a base de dados que temos até o momento é insuficiente para termos expectativas muito maiores e sólidas para prevermos algo maior que 1%. Mas a expectativa de crescimento, por si só, já é algo muito bom. E é sempre bom lembrar que o Focus é uma análise com a opinião de 100 economistas que atuam diretamente no mercado financeiro e aponta a expectativa deles.
Pergunta: Dentro daquela velha máxima de que “crise pode significar oportunidade”, observamos algumas empresas aproveitando para investirem em inovação em processos e até mesmo tentando uma recolocação mercadológica. Esse é o caminho, aproveitar para que, quando o crescimento voltar a ser consistente, a empresa esteja preparada para disputar seu espaço no mercado?
: Acho que essa questão da recolocação mercadológica e inovação foi muito bem colocada. Esse é um processo que deve ser constante, e aproveito tua pergunta para dizer que os governos também devem aproveitar o momento e investirem nessas áreas, em transparência, dando encaminhamentos mais adequados aos seus programas, sejam eles federais, estaduais ou municipais. Existe uma pesquisa do próprio Ministério do Planejamento que de cerca de 200 programas de estímulos do governo apenas 50% foram analisados, os outros não têm uma gestão pública adequada, pois ou não existem indicadores confiáveis, ou o gestor do programa não o entende. Então, respondendo a pergunta, sim as empresas devem investir em inovação e em melhorias de seus processos, e aproveitar esse “bom momento de crise” para saírem fortalecidas. Mas sempre lembrando, de nada adiante termos empresários inovadores se isso não chegar a população, se o governo não diminuir o peso da máquina pública e da burocracia.
0 comentários